domingo, dezembro 17, 2006

Conjectura Familiar.

Ânimos, novamente, calmos. Após o conflito, nem rotineiro nem surpreendente, regozija-se a paz e o novo trato que durará mil anos. Tudo certo, até que haja intervenção da consciência em tão desagradável ponto.

Percebo agora o porque discutir nunca levará a nada. Percebamos, primeiramente, pelos resultados alcançados com a discussão: Um trato que resolverá a distribuição de uma tarefa e do controle de um horário para a minha vida. Como, em algum lugar da face da Terra, isto seria suficiente para resolver os constantes atritos entre 5 membros de uma família?

Pensemos, então, em como chegamos nesta solução arbitrária: Como exemplo da massificada atividade rotineira de minha mãe, toma-se a limpeza da garagem. Então, remove-se ela, como signo do peso e do descaso, e atribui-se ela a mim. Simbolicamente faz sentido. Mas não factualmente. É só mais uma atividade que não vai aliviar a carga total de atividades da minha mãe e que há de ainda culpar-me por tudo o que não faço fora isto, pois o q faço não é contabilizado assim. E nem devo culpa-la por isto: obviamente só percebe quando não faço pois isto a incomoda.

Tomemos agora o controle do meu horário: simbolicamente isto traz (e, não devo negar, em alguma escala, factualmente) controle, seja meu, mas, como estipulado exteriormente, deles sobre minha vida (intermediado assim pela minha vontade que, não posso deixar de dizer, assim por eles lapidada). Dane-se, isso não é o porquê a minha vida não engrena. É, na verdade, um artifício que uso para agredir o funcionamento de minha vida, um desculpa, não uma causa.

E como, pergunto novamente, chegamos neste ponto?

A verdade, sob meu ponto de vista, é que na verdade estamos discutindo com propósitos diferentes: Minha mãe, ao vir e brigar comigo sobre assuntos diversos, reclamar que sempre tenho uma desculpa e não se interessar numa solução quando eu e meu pai negociamos uma inspira-me a intuição que não se interessa em resolver, mas sim e aliviar sua tensão em mim. Discutir até se obter uma solução torna-se, portanto, cansativo e inútil, pois o objetivo era apenas desabafar em meu ouvido. As soluções que pouco tem ligação com a realidade obtidas por meu pai só me inspira a intuição que ele não busca solver os problemas, mas sim fazer o seu ponto de vista e, assim, prevalecer sobre a conversa e não sobre a realidade, promovendo uma paz na briga mas não condições objetivas para o fim dos conflitos. E não devo deixar a entender para um possível leitor meu que faz isto de mal: apenas não percebe que o seu objetivo é, latentemente, prevalecer na discussão (corroboro isto com a não tomada de partido frente a descentrações na culpa do discurso de minha mãe e, em resposta, um frenético enfoque na solução do meu problema com ela). E creio que, a decorrente graduação que faço inspira-me a vontade de compreender o que jaz latente e de solucionar efetivamente os problemas. Mas como não estou no mesmo registro que ambos, o que a muito intuo mas a pouco percebo, não vou conseguir. E assim, deparo-me com uma masoquista que nos culpa do peso que escolhe diariamente carregar sozinha e um idiota que coage e discute para brincar de ter poder.

Sei que fui agressivo mas, passada a euforia de iludir-me com a solução proposta por meu pai, não o perdôo sem um sincero pedido de desculpas que nunca virá pela estupidez, por nunca ter me ouvido, por ter sempre prevalecido pela força e por ter culpa de muitos erros desencadeadores dos conflitos presentes.

Não é sufocante para o corpo em todas as suas necessidades viver aqui, no amplo espectro que contempla os alcances materiais. Mas é, para a alma, um martírio estar submetido a uma anti-lógica de satisfação e poder que minam a possibilidade de resolução por medo da dissolução do eu em problemas remotos, desculpando-se pelas condições criadas pelos próprios erros e revestidas com um verniz de omissões.

Não consigo dormir e sinto muito ódio. Espero que, caso lido, faça-me entendido, não convencendo necessariamente que estou certo, mas sim que tenho razão em pelo menos algumas afirmações, a pesar da truculência as vezes por mim empregada.

Revoltado,

Victor.